A cara do
Brasil de hoje é a do doente estendido na maca, esquecido no corredor. Não é
esta uma das imagens que mais vemos, nos jornais e na Tv? A dos doentes
abandonados, em cantos de hospitais? Revoltosos pela falta de atendimento
médico ou indignados pela lentidão do sistema? Pois esta é a cara do Brasil.
Esta é a cara.
Indague-se agora: e o que há por trás da cara? A reposta é: um problema de
falta de pontaria. Por trás dessa triste cara do Brasil, país do bom basquete,
onde brilharam Janeth dos Santos e Oscar Schmid,
repousa um problema de falta de pontaria.
É o que veremos, mas antes tenha-se em mente que coisa
devastadora podem ser as imagens que definem certos momentos de certos países.
Pense-se na África. Imagem: crianças subnutridas. Pense-se no Haiti, do
terremoto. Imagem: prédios virando pó... cadáveres sob escombros. Pense-se no
Japão do tsunami. Imagem: lares totalmente arruinados e vidas arrasadas. Pois a
imagem do Brasil de hoje é a do doente escanteado e desassistido.
Chegamos a um ponto, e isso é o que se quer enfatizar
aqui, em que a desculpa da falta de verbas tem cheiro de história mal contada.
Mais importante é a questão já enunciada, e que agora passaremos a detalhar: a
falta de pontaria.
O que existe é uma dramática falta de pontaria por
parte das verbas públicas. Sabe-se muito bem de onde elas saem, ou seja, dos
cofres públicos, e em última análise do bolso do contribuinte. Mas nunca se
sabe ao certo qual o ponto final da viagem. Teimosamente, elas insistem em não
cair na caçapa a que se destinavam.
Volte-se ao caso dos hospitais. Tudo bem? Mas o que
acontece realmente? Simples: a verba começa uma louca viagem, e pode acabar no
bolso de um traficante que alega fazer, com uma equipe de sete médicos,
quinhentos partos por dia. Quer dizer: deu-se o problema da falta de pontaria.
Sair a verba saiu. Mas errou o alvo e caiu no bolso errado.
Mais do que falta de recursos, o que se tem hoje no
país é um escabroso desrespeito pelo dinheiro e o bem público. Em consequência,
os serviços públicos sofrem efeitos tão arrasadores como o terremoto no Haiti,
o tsunami do Japão ou a subnutrição na África. E o Brasil fica com a sina de
ter no doente esquecido no corredor ou desassistido uma imagem mais fiel, para
defini-lo, do que a cachaça, o futebol e o samba.
Não se pode negar que as sociedades em sua absoluta
maioria, padecem dos males da falta de planejamento, da incompetência gerencial
e da carência de serviços básicos aliado à dificuldade de acesso da população
aos escassos serviços, que em busca de atenção, vivem em forma de itinerário,
de um lado para outro, pois convive-se com o descumprimento de pactuações entre
os gestores e uma indefinição de responsabilidades.
Diante do empurra-empurra, o cidadão fica no meio, sem
saber ao certo a quem deve recorrer para garantir o seu direito. Com isso, sem
informação e necessitado de assistência, o cidadão estabelece relação direta
com o hospital, reforçando ainda mais a lógica hospitalocêntrica, que leva à
desestruturação da atenção básica enquanto modelo de estratégia e porta de
entrada do usuário ao sistema. Em consequência, o principio da integralidade
não se efetiva e perfaz-se a fragmentação do sistema desde a atenção básica até
os serviços de média e alta complexidade, o que dificulta a visão holística do
indivíduo.
Por outro lado a corrupção com o dinheiro da saúde nos
acompanha desde sempre. Uma retrospectiva histórico-política da saúde revela
que o financiamento e o repasse de recursos sempre foi insuficiente diante das
necessidades.
O mau uso dos poucos recursos financeiros disponíveis
– quando estes não vão engrossar contas bancárias – aliado a entraves políticos
e burocráticos transformam, progressivamente, a saúde num caos sem solução que
atinge diretamente as populações menos favorecidas.
E como no Brasil se convive com um sistema
verticalizado que “alimenta” programas e sistemas de informação de serviços em
saúde, os gestores nem sempre empregam os recursos da saúde de forma racional,
transparente e responsável, até porque a maneira pela qual são administrados
não está ao alcance e aos olhos da população e sempre encontrou-se um
‘jeitinho” de desviar os recursos destinados à saúde; além do mais, para locais
sórdidos como meias e cuecas. Aonde iremos parar?
Mas a cada quatro anos, nós cidadãos, nos orgulhamos
de ser brasileiros, nem que seja por um curto período que se restringe apenas
às campanhas eleitorais, onde enchemos nosso peito de esperança e nos
consolamos com promessas e discursos desenvolvimentistas inalcançáveis cada vez
mais supérfluos, incoerentes e banais. É justamente nesse período que o cidadão
fecha os olhos para o caos social, verifica-se uma tendência ao comodismo
absurda e principalmente uma perda de memória inaceitável, já que a cara dos
sanguessugas e os escândalos vivenciados
se tornam arquivo morto na consciência das pessoas.
Constantemente, ouvimos a seguinte frase, nas
manchetes de revistas e jornais: Governantes prometem transformar o país! Não é
raro se ouvir afirmações como esta! Mas será que os atuais governantes estão
aptos a fazer o que propõem? Será que são capazes de dar uma esperança mínima à
população de se viver num pais melhor? Até que ponto a honestidade só será
usada como palavra e até quando se viverá com a incerteza do amanhã? Nós
cidadãos não podemos depender de “políticas de governo de pão e circo” nem
tampouco da benevolência dos gestores ou políticos.
Vale ressaltar que as CPIs não são a solução, nem
trarão de volta os recursos desviados da receita da saúde ou, ao menos,
resolver os problemas de saúde enfrentados pela população. Não há como negar
que a corrupção é, sem dúvida, um dos grandes problemas atuais, e que o cidadão
simples e trabalhador é o que mais sofre com seus efeitos e consequências.
Desviar o dinheiro público não significa apenas
retardar o progresso de um país, mas assaltar o cidadão que paga impostos e
roubar a esperança de que seus filhos vivam num futuro diferente da realidade
em que vivem hoje.
É fato. Não são apenas bandidos e traficantes que
insistem em manchar a dignidade do país. A frente de uma máfia de interesses
comuns, a corja de saqueadores quando rouba o dinheiro que, por exemplo, seria
destinado a hospitais, mata não se sabe quem ou quantos. O assassino de sangue
frio e calculista, pelo menos, escolhe suas vítimas, olha nos seus olhos. O
político corrupto além de assassino é, antes de tudo, covarde. E, ainda assim,
não é culpado!?. A lei acoberta-os. E aqui cabe a pergunta: essa lei é a mesma
que nos ampara enquanto cidadãos? Ficha limpa não passa de marketing. De paletó
e gravata, as hienas descansam eternamente em berço esplêndido, num local onde
justiça não há.
Três anos depois. . . no presídio aquele assassino,
cumpre pena junto com tantos outros que se quer foram julgados e condenados. A
"justiça" dos homens tarda, falha e custa caro. O político corrupto,
por sua vez, em meio a acusações de fraudes e desvios solicita habeas-corpus
preventivo, sem ao menos estar preso, algum tempo depois foi reeleito com
maioria absoluta dos votos do seu estado/município e, assim, caminha para o seu
segundo mandato de “representação do povo”.
No telejornal das seis, Maria do Carmo, doméstica e
semi-analfabeta, uma das que o ajudou a se reeleger assiste ao julgamento do
assassino indignada com a pena, que segundo ela, foi pequena diante da
brutalidade do crime.
Não precisamos de um salvador da pátria! Há quem
reclame e ache que não há solução. Assim como há quem conteste e lute pelos
seus direitos. Não se pode esquecer que cada cidadão da mesma forma que tem o
direito de eleger, tem o direito de cobrar dos governantes àquilo que se
propuseram.
Em suma, os maiores culpados não são os bandidos, os
corruptos, são os cidadãos como nós que silenciam em meio aos caos, e como a
Maria, que “passa a mão na cabeça” dos malandros e ainda no seu discurso, culpa
o governo e tão somente, pela falta de remédio no posto. Há quem afirme,
categoricamente, que cada povo tem o governo que merece, pois assim o fez.
Versão Expandida e Adaptada
Escrito por: Jameson
Moreira Belém.
(Enfermagem - 6º
Semestre)